A MULHER E O DISCIPULADO 

Hoje, abri minha primeira Bíblia. Na contracapa, li a dedicatória:

Silvana,
É com grande dedicação e muito amor que ti (sim, com este erro mesmo) oferto este hinário (que na verdade é uma Bíblia), desejando que, a cada dia, você venha a ser uma bênção nos caminhos de Jesus.
Maria Francelina Neta, 19/07/1974.
 

Maria Francelina Neta foi biologicamente minha tia, irmã do meu pai, mas, na vida, foi minha mãe adotiva e discipuladora. Era uma mulher simples, bonita, inteligente e fiel a Deus por toda a vida. Uma das primeiras membras da ICE de Santana, esteve presente até na colocação da pedra fundamental da igreja. Apesar de não ter concluído o ensino fundamental (o erro na dedicatória é um reflexo disso), possuía uma sabedoria e sensatez raras,qualidades que encontrei em poucas pessoas até hoje.
 

A primeira lembrança que meus irmãos e eu temos sobre Deus e a igreja vem dela. Todos os domingos, ela nos colocava em seu Jeep (um Ford Willys 1968) e nos levava à igreja. A primeira Bíblia que todos os seus sobrinhos receberam veio das mãos dela, sempre acompanhada de uma dedicatória cheia de amor e sinceridade. Ali, ela expressava o desejo de que seguíssemos na vida com Deus e nunca deixássemos Seus caminhos.
 

Ela foi, sem dúvida, nossa primeira discipuladora, dando exemplos práticos de como pais, mães e até tios podem e devem ser os primeiros discipuladores de uma criança.
 

A Bíblia nos exorta, em Deuteronômio 6, que devemos ser os primeiros discipuladores de nossos filhos. Em uma das traduções, o versículo 7 diz:
“E as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te.”
 

Gosto da palavra “intimarás”, porque, embora signifique “ordenar ou notificar com autoridade”, me remete também à ideia de “tornar íntimo”. E esse privilégio é dado àqueles que são íntimos dos seus, filhos, sobrinhos, netos. Isso me faz pensar em um princípio: “torne-se íntimo para ensiná-los a ter intimidade com o Pai.”
 

Refletindo sobre isso, percebo que a mulher tem uma grande oportunidade de ser usada por Deus nessa missão. A nós é dado o privilégio de um cuidado mais próximo e íntimo com os filhos desde o nascimento: amamentar, ninar, acompanhar os primeiros passos, ouvir as primeiras palavras, testemunhar as primeiras decepções amorosas, ouvir histórias, compreender sentimentos antes mesmo que sejam expressos. Deus nos concede tantas habilidades para amar, cuidar e edificar o lar e aqueles que vivem nele!
 

Assim como eu, muitas mulheres não têm filhos, mas podem ter sobrinhos ou outras pessoas próximas que necessitam de discipulado, especialmente crianças, adolescentes, jovens ou novos na fé. Nosso objetivo deve ser a glória de Deus, discipulando a próxima geração para que tema ao Senhor e ande em Seus caminhos, firmada na verdade de que Jesus é o único caminho, a verdade e a vida.
 

Gosto de imaginar que minha querida tia Maria Francelina Neta, agora com Deus, recebe o galardão por nos ter apresentado a Jesus e nos ensinado a andar com Ele. Hoje, nós cinco (tenho quatro irmãos) caminhamos com o Senhor. Dois deles são pastores, e todos reconhecemos a importância de nossa tia como a primeira discipuladora em nossas vidas.
 

Essa experiência me ensinou que mulheres simples, com pouco estudo, mas fiéis a Deus, podem se tornar discipuladoras inesquecíveis. Muitas vezes sequer conseguem dimensionar o impacto de sua influência nas gerações futuras. Também gosto de pensar que todo esforço no discipulado gera frutos eternos, frutos que não podemos medir aqui na Terra, mas que estão guardados por Deus.
 

Em Cristo, podemos fazer muito mais do que temos feito por esta geração jovem. Podemos mostrar o caminho, que é Jesus; amar, apoiar, ensinar e ser suporte nos momentos cruciais, preparando-os para trilhar um caminho mais reto ao lado d'Ele: errando menos, adorando mais e semeando ainda mais do que nós.
 

Que o Senhor nos faça mulheres sábias, discipuladoras apaixonadas e firmadas na fé, para a honra e glória de Deus.
 

Silvana Francelina Silva