A IGREJA COMO POVO DE DEUS

“Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” 2Co 6.16

Inicialmente a Bíblia apresenta a Igreja como Povo de Deus. O conceito de Igreja como Povo de Deus vem do Antigo Testamento, porém encontraremos a referência mais clara em 1Pd 2.9-10: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois Povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (realce do autor).

Esses versículos assinalam claramente que a Igreja é um povo com profundas raízes históricas. A Igreja se encontra alicerçada no conceito veterotestamentário de Povo de Deus. O apóstolo Pedro se vale de Êxodo 19.5 – “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha” – para indicar que o plano redentor de Deus para o mundo não tem sido frustrado pelo fracasso de Israel, e que a nova comunidade fundada em Jesus Cristo, a quem Deus fez a principal pedra angular, na edificação do novo templo, substituiu, com vantagens, a Israel. Dessa maneira a Igreja herda as honras e o nome de Povo de Deus, outorgados antes a Israel, vinculado à história da redenção.

O fato de que a Igreja tenha substituído a Israel indica que ela foi eleita pelo próprio Deus. Essa eleição só pode ser compreendida no contexto da misericórdia do Senhor, como bem afirma o apóstolo: “assim também estes, agora, foram desobedientes, para que, igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida. Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos” (Rm 11.31,32)

Logo, a Igreja é um povo a quem Deus escolheu por sua soberana graça. “Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu, porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão.” (Dt 7.7,8)

Esse povo escolhido misericordiosamente por Deus é também um povo peregrino, como lemos em Hebreus 13.13. A Igreja é um povo em marcha, chamado a viver “fora do arraial”. Sua visão está na cidade não construída por mãos humanas. Portanto vive sempre inconformada com o presente, já que prossegue em busca do futuro de Deus. Esse caráter peregrino da Igreja como Povo de Deus levou Jurgen Moltman a proclamar Igreja como “Comunidade escatológica da salvação”. Ela não vive de si para si. Ela vive do domínio do Espírito, esperando a manifestação de Cristo em glória.

E igreja como povo peregrino de Deus vive consciente de sua herança e de sua origem misericordiosa do seu presente. Sente a deficiência do seu estado atual e olha para o futuro quando sua posição como Povo de Deus será confirmada na glória eterna.

Pr. João Arantes Costa (In Memoriam)