“Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum” At 2.44
Numa tarde de domingo em março de 1998 estávamos fazendo evangelismo em Ceilândia (DF). Próximo do portão de uma casa chamamos por um senhor e lhe propusemos falar de Jesus. Ele, de modo brusco, respondeu que não tínhamos qualquer autoridade para falar de Jesus, uma vez que “esse povo de Deus é muito dividido”. Alegou que, dias antes, havia passado por ali gente de outra denominação e posteriormente de outra ainda, e cada um defendia sua igreja. Respondi que poderia lhe explicar sobre a comunhão da igreja. Ele me cortou e, de modo irônico, disse: “Você poderia primeiro explicar porque na avenida principal aqui perto tem a Igreja Batista dos Abestados?”. Respondi que o que ele estava fazendo era fruto de um coração endurecido ou de ignorância, pois o nome é Igreja Batista Betesda!
Perguntei se sabia o que significa Betesda. Segui explicando que Betesda significa “Casa de Misericórdia”, e que por essa misericórdia Deus o amava como a todos nós outros. Ele se calou e eu prossegui: permita-me explicar sobre a primeira dúvida que o senhor lançou dizendo que a igreja é muito dividida. No Brasil temos o Exército, de farda verde, a quem cabe proteger nosso espaço terrestre; a Marinha, de farda branca, a quem cabe proteger nosso espaço marítimo; e, a Aeronáutica, de farda azul, a quem cabe proteger nosso espaço aéreo. São forças distintas, de pelotões distintos, de uniformes distintos, porém com o mesmo ideal de defender nossa bandeira, de proteger a nação brasileira. Pois bem, assim somos nós, a igreja, com características distintas, pelotões distintos, porém com o mesmo ideal, trabalhar pelo evangelho do Senhor, viver e proclamar a Sua salvação. Aquele senhor então, abriu o portão da casa e nos convidou a entrar, pediu desculpas pela atitude tomada de início, e passamos o resto daquela tarde falando do Senhor!
Numa outra ocasião, logo no início dos anos dois mil, a Igreja Cristã Evangélica de Ceilândia (DF) passou por uma mudança pastoral. Saia o Pr. Hélio, e após uns três anos, entrava o Pr. Valdemberg. Nesse interstício, àquela época eu era evangelista na Assembleia de Deus, e não estava pastoreando. Então meu irmão e amigo presbítero Marcos Mendes, (membro da ICE em Ceilândia, com a aquiescência do Conselho da Igreja sempre que precisava, e foram várias ocasiões), me convidou para estar com eles, auxiliando-os no exercício pastoral e ministração da Palavra. Assim, aquela fase sem um pastor titular foi superada, e o Senhor ordenou a sua bênção à ICE em Ceilândia (DF) com a chegada do novo pastor, bem como ordenou a sua bênção sobre a minha vida. Outros pastores também nos têm abençoado.
O Salmo 133 retrata a bênção da unidade, da comunhão. Após a problemática divisão do reinado de Saul que trouxe muitas consequências ruins, Davi, o novo rei, exaltou o valor da unidade do povo de Deus, fazendo valer o potencial da unificação das doze tribos de Israel. Deus operou pela unificação das tribos, e essa comunhão gerava o terreno fértil para o agir de Deus – é a dinâmica da bênção. No contexto dessa união, o Senhor ordenou a bênção, o que é bom e agradável. Nesta era do denominacionismo pós-reforma, nosso desafio é contra a fragmentação, com a sensatez de considerar critérios bíblicos. Como afirmou Francis A. Scheaffer: “Estou convencido de que as pessoas do século XX, em todo o mundo, não vão nos ouvir se possuirmos a doutrina correta e as regras de conduta corretas, mas não vivermos em comunidade. Não adianta dizer que temos comunhão ou amor um pelo outro se isso não for mostrado na prática”. Estar aliançado como povo de Deus é estar aliançado com Deus.
Provavelmente a comunhão seja a mais eficiente arma que a igreja pode produzir para convencer o mundo fragmentado sobre Deus.
Pr. Maurício Antunes Madureira Pr. da Igreja Evangélica Tempo de Esperança Samambaia, Brasília - DF