Deus é onipotente, criador do Universo e um ser relacional. Ele escolheu conviver conosco e manter uma vida de comunhão através de Jesus Cristo. Quando nos criou à sua imagem e semelhança, nos criou, consequentemente, como seres também relacionais. Seres que só viverão plenamente a Sua vontade quando em comunhão com os outros. Além de todo o suporte e ajuda, o convívio torna a caminhada mais leve e prazerosa, presente de Deus para nós. No entanto… nem sempre o nosso próximo é alguém com quem temos afinidade, ou mesmo alguém agradável de se conviver. Como entender a necessidade dessa convivência? Como ser bênção e se deixar abençoar quando o relacionamento parece tão problemático? Ironicamente, é precisamente nos relacionamentos mais difíceis que normalmente moram as maiores bênçãos.
Em Mateus 5.43-48, Jesus nos lembra: "Vocês ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo'. Mas eu digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E, se saudarem apenas os seus irmãos, o que farão demais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.”
Nosso coração pecaminoso nos faz acreditar que é o outro quem precisa mudar. Afinal, se o outro não fosse tão ruim, nós não precisaríamos pecar. Acreditamos ter o direito de pecar quando vivemos em meio ao pecado. Acreditamos que, quando o pecado do outro é muito grande, o nosso é menor. Esquecemos que Deus escolheu intencionalmente cada um com quem convivemos, por isso, estar ao lado de alguém que pode nos levar aos nossos limites, não é acaso, é bênção.
É bênção porque seremos treinados constantemente no exercício da paciência, da tolerância e do perdão. Quando questionado por Pedro sobre a quantidade do perdão, Jesus respondeu: “Não até sete, mas até setenta vezes sete.” (Mt 18.21), e não “até quando você julgar justo, Pedro”. O amor de Deus não tem limites e assim deve ser o nosso.
Em Cristo, temos um só Espírito e é Ele quem deve governar nossas vidas. Precisamos nos encher dele para que transbordemos e, assim, entendermos que a desobediência do nosso filho não é pecado maior do que a nossa preguiça de educá-lo, tampouco justifica nossa falta de mansidão quando estamos exaustos; a omissão do cônjuge não é pecado maior do que o nosso desrespeito à sua autoridade; o crente “esquenta banco” não peca mais do que o crente super envolvido, se este fizer uso de fofocas e maledicências.
É justamente quando chegamos ao limite, quando transbordamos, que o nosso interior vem à tona. Quando Deus nos põe à prova é que se revela do que realmente estamos cheios (Mt 12.34).
O que a comunhão com o “irmão mais difícil” tem revelado sobre nós? Esses relacionamentos nos oferecem chances de transformação: são como lixas, que aparam nossas arestas, nos tornando mais santos, ou como o ferro que afia o ferro (Pv 27.17). Vamos olhar os nossos relacionamentos não mais como peso, mas como oportunidades de santificação? É na comunhão que crescemos, é nela que nos santificamos, é ela quem nos molda e leva ao amadurecimento.
Profª Gianne Pereira